todos os fatos, novidades e destemperamentos que eu queria comentar com mais de 5 pessoas mas tive preguiça de ligar.

27.12.09

reveião

Sabia que esse nosso reveión vem do francês réveiller, e significa despertar? Eu nem sabia. Deve ter sido ideia de alguém bebum-bilíngue numa mesa high society qualquer do brasil república, e a gente segue repetindo. Falemos em francês que é mais chique, reveião pra cá e reveião pra lá. A pronúncia sai quase perfeita, a parte do "despertar" fica meio de lado. Ou eu que sou chata e não entendo que o acordar é fazer planos mirabolantes pros próximos 365 dias.

E sabia que foi algum julio césar que decidiu que dia ia ser a virada, em homenagem ao deus juno, deus das portas que tinha duas caras, uma pra olhar pra frente e outra pra trás? Eu não.

Gosto mesmo dessa época. De pensar que o ano acabou mesmo e nada tem problema, ano que vem a gente conserta e de achar que a cor da minha calcinha vai mudar as energias do ano. E eu já fiz minha lista de afazeres pra 2010, até agora com 13 itens. feliz año!

11.12.09

lugares onde não morei - I

Curitiba, 1987. Rua Fco Benevides, 15.

Buenos Aires, 1995. Calle Ayapuche, 122.


Ipanema, 1976. R. Frei Arantes, 81.

4.12.09

lichia vital


- Bom, é dezembro. Minha proposta é criar algo festivo pra essa época, sabe? Agraável, único demais e que cause uma pequena.. digamos.. compulsão.
- Entendo, acho que a primeira coisa a definir é o tamanho. A partir daí a gente pode desenhar melhor o produto.
- Olha, sendo bem sincero, esse modelo enorme, tipo melancia e jaca, já deu. Over demais. Muito trabalho pra sustentar, pra dispersão.
- Mamão?
- Pensei em uma coisinha menor, limonesca. Já que é um capricho de dezembro, a árvore já podia ficar enfeitada.
- Sei. Então não precisa muita semente. Só uma é suficiente, né?
- É, uma semente tá bom. Mas assim, soltinha. Não vamos fazer igual ameixa, manga, não.. Aquilo de fiapo no dente não tem nada a ver com natal.
- Polpa? Gosto? Casca?
- Polpa com textura quase uva, mas com mais umidade, mais macio. Um gosto cremoso, envolvente, nada de ácido. Muito perfume, mas sem enjoar. Casca grossa pra sustentar isso tudo. É pra ser de descascar, o consumidor vai ter que fazer um esforcinho.
- Tá, tá. E o que acha dessa polpa com uma cor bem chamativa, assim, verde, e a casca mais neutra?
- Não, não.. isso já foi no kiwi. O miolo branco e a casca rosada-romã.
- Perfeito.

Tem dia que a gente acorda antes do despertador, bonita, sai de casa ouvindo música e balançando a cabeça, apreciando o céu, os carros te fecham porque você dirige estupidamente mal e nada, nada é problema. Deus devia estar assim quando inventou a lichia, provavelmente numa sexta feira.

2.12.09

decisões

Exatos 05 minutos depois de decidir que ia limpar o corpo e ia começar recusando o suco encaixotado, ela aceitou a bala de maçã verde. Aquele plástico de qualquer coisa menos maçã agora fica grudando nos dentes para lembrá-la que as decisões tem sim que durar um pouco mais de 05 minutos, o tempo exato que a sua memória libriana consegue manter a firmeza do discurso.

26.11.09

calor & mau humor


no mundo espontâneo-patada-way-of-life é assim:

(a caixa te olha com o cartão na mão na frente de uma fila de 30 pessoas)
- vai querer mais alguma coisa?
- ah sim, esqueci das batatas, já volto.

(você levou um pé na bunda do seu namoro de 3 anos)
- tá tudo bem?
- tudo ótimo, ser rejeitada é incrível.

(o rapaz do detran da lei seca)
- a senhora consumiu bebida alcóólica?
- uuunnmmms 30 chopssss

(o moço do atendimento da farmácia-delivery)
- a sra vai querer troco?
- não, não, fica com 15 reais de gorjeta.

(seu avô morre)
- mas tá tudo bem?
- tudo ótimo, perder um parente é uma boa forma de treinar o desapego.

(você encaçapa o carro na traseira do ônibus)
- mas tinha seguro?
- é, quebrei 5 costelas mas por outro lado, olha que bom, vou pagar só a franquia.

(você chega encharcado no prédio)
- tá chovendo é?
- não, tomei banho de roupa.

- você tá dormindo?
- não, meu olho tá fechado por causa de um tique.

- você tá lendo?
- não, tô segurando isso na minha frente pra evitar o diálogo.

- calor, né?
- Jura que vc tá achando? 35 graus na minha terra é quase neve.

15.11.09

5.11.09

biografia I


Depois de sua terceira volta ao mundo, do sétimo ano de viagem, da vigésima quinta amante e da trigésima infecção intestinal, Enrico Nuñez estava cansado. Decidiu que, a partir do próximo momento que pisasse no lugar onde um dia foi sua casa, ao invés de tentar desesperadamente fazer parte do mundo, faria o mundo fazer parte dele, agora de uma vez por todas.

Cansado de rodar ao contrário da rotação da Terra (insistia em dizer que isso o rejuvenescia), cansado de não entender as estações do ano, com medo das doenças venéreas globais e de perder sua capacidade digestiva, Enrico queria parar. Como sabia que todas as lembranças não durariam mais de 10 anos: as fotos clareiam, os suvenires quebram e as memórias somem; ele agora ia se tornar seu próprio mundo, e tornar da sua auto-exploração a próxima atividade de ócio (e de vida).

Para não sofrer tanto de saudade e não se perder nessa transição do macro para o micro, Nuñez, que não era gordo, ia se dividir em fatias como os homens fizeram com a Terra. O homem escolhido para o trabalho de início não apoiou a empreitada, mas, como bom tatuador que era, enfim entendeu a proposta e garantiu a qualidade do serviço. Enrico teria trópicos: o do ártico na altura do pescoço, o de câncer nos braços, o equador na cintura, o de capricórnio acima dos joelhos e o antártico nos tornozelos.

Pois bem. Enrico se tatuou, depois vendeu seu barco e voltou pro seu sítio na bahia, casou, teve dois filhos, pratica taichi e vende café orgânico numa feira de ilhéus, todo domingo.

27.10.09

sobre o desleixo

Enquanto eu estiver perdendo só as minhas coisas, tá tudo ótimo. Tenho perdido coisas. Entre amarrar todos os meus pertences com um barbante e criar uma teoria que me isente da falta de cuidado, fiquei com a segunda opção.

Quem já viu aquele filme "quem somos nós?", que divaga cheio de gracinhas sobre uns temas intimidadores da física, e já ficou grilado com as múltiplas possibilidades da matéria vai entender melhor meu ponto. As coisas, assim como as pessoas, tem carmas e destinos e partículas que atraem e repelem tudo ao redor.

Por exemplo, quando compramos um óculos, ele vem de algum lugar e é feito de alguma coisa. Por algum motivo desse nosso sistema, você acha que ele te pertence porque você deixou uns dinheiros na loja para tê-lo em sua cabeça. Mas isso é mentira. Ele não é seu, o que foi pago foi apenas uma breve permissão de companhia. Ele está com você e não adianta pagar seguro, pendurar cordinha nem amarrar a caixa na bolsa, quando ele quiser ir embora, ele vai.

Pois bem. Assim todos os contratempos que temos com objetos podem ser entendidos como o seguimento de seus cursos naturais, por isso que batemos o carro, perdemos os celulares e manchamos roupas. Não é nossa culpa. Me parece também que quanto maior nossa simpatia pelo bem, maior a chance de perder, deve ter uma relação inversa de gostar muito/tempo permitido de pemanência na posse.

Pronto, muito fácil me convencer.

21.10.09

zapón

Abstraindo completamente o meu pseudo-vegetarianismo, na base do "você é vegetariano, mas come peixe, né?", me aventurei no mundo das palavras de 10 sílabas incompreensíveis do faça-sushi-em-casa.

1. O arroz nipônico é vendido na prateleira mais escondida do mercado e é da variedade "californiano". Terra americana do suco de laranja e surf platinado. Não entendi.

2. Enquanto a gente faz arroz num refogadinho de alho queimado com cheiro de almoço, eles recomendam um tempero de vinagre, açúcar e glutamato. Se eles fizessem farofa ia ser com gelatina sem sabor.

3. Salmão, que na minha cabeça continua sendo um quadrado de plástico-silicone, tem uma pele esquisitérrima, que depois eu associei ao que é chamado de "skin" nos restaurantes e tem gente que adora. O equivalente nacional seria uma coxinha recheada de pele de frango a passarinho.

4. Salmão só deixou de parecer plástico quando meus dedos ficaram aproximadamente 6 horas com cheiro de peixe, que não se abalou com detergente, sabão em pó, acetona e álcool.

5. A parte lúdica, de montar os rolinhos, beira o completo descontrole. O arroz, que era pra grudar na alga, gruda na mão. A alga, que era pra ficar parada, gruda no pote de água, que era pra servir pra não grudar a mão no arroz. Os dedos, que eram pra ser cinco por mão, viram uma espátula grudenta. A faca, que era pra cortar as fatias, perde o fio sozinha e a alga, que no pacote era seca e quebradiça, vira um quase tecido. Logo, não espere nem rodelas nem redondas.

6. Temaki me convenceu ser a mais esperta decisão da cozinha oriental para amadores, isso de fechar os sushis é algo para poucos. O recheio perna de grilo é muquirana demais e o que na minha cabeça seria o aceitável não deixa que os dois lados da alga se abracem. E a alga não aceita remendos.

Bem, empanamos as rodelas feiosas num procedimento teriaki-gergelim para enganar o olho e agradar o estômago, almoçamos e sobrevivemos. Para poucos.

13.10.09

no museu




Projeto de intervenção urbana, procuro parcerias.

Nos piores eventos nascem as melhores ideias:


- Agora, vista boa, boa mesmo do palco, deve ser lá de cima do museu. Queria era ver o show lá de cima.
- Área vip total. Ia ser bom subir ali com uns desentupidores na mão, tipo homem aranha, acho que dava pra chegar lá em cima, fácil.
- Ou então podia jogar uma corda, né? Atravessava ele todo e prendia lá em cima, e as pessoas subiam segurando a corda.
- Corda né.. interessante. E pra jogar? Será que dava pra passar a corda amarrada num carrinho de controle remoto?
- Acho que não..Tem que ter muito atrito, é muito vertical, muito liso.
- Tinha que ser um arco e flecha, um.. como se chama? Arpão?
- É, aí dava. Em várias direções, pra todo mundo subir simultâneo.
- É...mas inviável, sujar a bola toda, ia ficar cheia de pegadas de barro.. Ela já é meio sujável e não pintam nunca.
- Ah, então. Era só botar uns tanques de cal ao redor, as pessoas pisavam na tinta branca e subiam. Ainda ia ser um serviço de utilidade pública.
- Nossa.. e se os tanques fossem de tinta colorida, assim, tons harmônicos? Ia ficar bonito demais.
- Nossa... ia ser genial. Será que niemeyer ia ficar muito puto quando visse?

6.10.09

sobre sabões e comidas


Tudo culpa do frank.
Frank, o moço que me corta os cabelos, insistiu mais uma vez que xampu pra ser bom mesmo não pode ter sal, que se eu insistir nesses potes bonitos e cheirosos da unilever que não entram na europa nem pra lavar pelo de cachorro em pet shop, meu cabelo ia cair antes dos 40.
"mas xampu sem sal não faz espuma..."
"garota, essa espuma de propanopil de fosfanolina pode te dar até câncer. mas você que sabe."

É, eu que sei. Parei admirando a seção de lavadores de gente, no mercado, no domingo. Com toda bravura que envolve ir ao mercado nesse dia, com todos os funcionários públicos comprando as compras do mês e o tecladista de churrascaria tocando "la vie en rose" alto, bem alto.

A primeira coisa que eu entendi é que as mesas redondas da área de criação da indústria cosmética devem envolver psicotrópicos pingados no café. É tanta criatividade que desnorteia, incomoda.

A segunda coisa que eu entendi, mais intrigante ainda, é que tudo naquela área de embelezamento envolve algum tipo de composto comestível, orgânico, natural e tudo parece delicioso e brilha. Todo pote é cheio com alguma fruta exótica dos confins da amazônia, de uma erva e/ou composto medicinal oriental e algum químico recém descoberto. Tudo ligeiramente impronunciável, pra gente não lembrar de procurar no google depois.

O fato é que além de alimentar a esperança de o meu cabelo não ter mais sal, fiquei com fome. Pirei num creme de morango com hortelã elegantemente derramado em uma torradinha e hidratante de castanha com ameixa para sobremesa, em cima de um pudim. Perdida entre as ideias de cotovelo ressecado e uma provável intoxicação alimentar, desisti.

Mas aí fiquei pensando nessa relação comida/cosmético, de já que a gente não consegue comer bem pela via normal, tenta compensar com um "comer" bem por fora. Aquela coisa de a gente achar que faz bem sem sacrifício, castanha no óleo de banho não engorda. Ou ainda, já que não dá pra abrir mão da picanha do almoço, ainda dá pra esfregar cupuaçu com ylang ylang na pele e esperar. Vai que compensa.

28.9.09

meias

Os jovens chamam cerveja de cerva, churrasco de xurras, com x, e fim de semana de findi.
Os acadêmicos chamam relações internacionais de rel, nutrição de nut e biologia molecular de biomol.
Os velhos vão no gastro, no oftalmo, hemato.
Os botequeiros bebem ínhas e óscas. Tem o fla, o flu, o inter e o fogo.

Depois que inventaram esse modelo de gente que opera no modo de diálogo monólogo-autônomo-eterno, também nasceu isso de cortar as palavras ao meio. Acho que foi por aí. Quanto mais as pessoas têm necessidade de falar muito sobre tudo e qualquer coisa ocupando a maior quantidade de ouvidos possível, mais elas reduzem as palavras. Amém, o modo prolixo disso tudo é assustador.

Pode ser também um reflexo dessa coisa de consumo consciente. Acompanhe. Quanto menos sílabas menos se respira, quanto menos se respira menos carbono se joga no ar, e isso é igual a menos efeito estufa, menos destruição, menos consumo e no final sobra mais matéria pra gente comprar mais bobagem mais barato no cartão de crédito. Improvável, mas o ser humano é sagaz nessas relações de causa-efeito improváveis.

Ou é só preguiça mesmo. Ou melhor, preguisss...

Bom mesmo vai ser quando esse comedimento de comer só a última sílaba de algumas palavras for largado. Quando a gula fonética dominar. De tão complicado e incompreensível que ficaria, era capaz que as pessoas abandonassem o diálogo e se entendessem mais.

16.9.09

tempo


tenho achado essa nossa relação com o tempo muito estranha.
o tempo deve ser aproveitado à exaustão, repetimos e somos repetidos o dia inteiro que a vida é agora, que o melhor lugar do mundo é agora e que entre passado e futuro o melhor é o presente.

aproveitamos todos os segundos com atividades simultâneas, exaustivas e participamos de todas com a nossa ausência.
(onde a gente está nesse tempo todo mesmo?).
escovar o dente e ver tv. dirigir e ler o restinho do resumo da prova e consertar a perna do óculos. almoçar e conversar e ver o extrato do banco. tomar banho e lavar roupa e ouvir música.

o custo. entendemos que tempo é dinheiro, precificamos o tempo e agora ele tem um custo. o foda é que o preço sobe até onde for e as 24 horas continuam as mesmas.

as imagens. tiramos tanta foto pra permitir que nossos olhos visitem sempre o passado com alguma precisão e nessa tentamos congelar o tempo na nossa cabeça. nisso, acabamos esquecendo de viver as horas, preocupados em capturar o melhor ângulo que, se der tempo, a gente pode voltar a visitar.

o quando. queremos tudo pra ontem. acaba que a gente tenta acelerar tudo na base da porrada: apertamos freneticamente o botão de chamar o elevador, o botão de fechar o sinal, o botão do controle remoto e a buzina do carro, como se a nossa ansiedade corporal fosse abalar algum desses tempos.

o resultado. e mesmo acreditando que desenvolvemos tantos métodos tão eficientes pra aproveitar o tempo; e tendo a fiel incerteza de que de fato vivemos no presente, ainda assim os anos passam mais rápido, os dias voam e nem percebemos as horas, num misterioso e conspiratório movimento do calendário ocidental ou da força da gravidade, vai saber.

10.9.09

ditos populares


Pedra que não rola cria limo.

Ela ouviu isso em algum lugar e ficou cismada. A pedra da gávea olhou pras estrias verdes que já tomavam maior parte de sua base e resolveu seguir o conselho do ditado. Ia dar uma volta. Afinal, como era possível estar a tanto tempo enfeitando um lugar e não senti-lo, numa forma estranha de fazer parte não vivendo. Fora que ela sabia, chegava a seus milhares de ouvidos, o comentário que ecoava era que aquela cidade tem o metro quadrado mais bonito do brasil.

A época não podia ser mais adequada. Era domingo de carnaval, o rio fervia e as janelas dos prédios pressentiam, pela tremedeira nas juntas das esquadrias, que um terremoto chegava. O bondinho de santa carregava um pessoal fantasiado-pulante que berrava que "se essa porra não virar" tão alto que despistava a trepidação dos trilhos. Mas no rio não tem terremoto e no carnaval não tem desgraça.

Pequenos surtos de impulsividade das grandes paisagens naturais. A pedra respirou fundo, uma respirção completa de 3 ciclos, pediu licença pro bonde, soltou a cordinha e prendeu do lado. Pediu desculpa pelo incômodo. Transbordando polidez, desceu um degrau. Sempre com muita educação, evitando destruir mais de 6 carros e 2 casas por vez, por passo, lentamente. Tinha plena consciência de que catástrofe e passeio são coisas muito diferentes.

"Puta que pariu, não sei frear a cambalhota, isso vai dificultar..." - Ela lembrou com seus pedaços de montanha estirados no chão depois de uma rodada. Cada poste levava uma fiação que se emaranhava na coleção de ônibus que também já tinham se enrolado em outras árvores e restos de cidade, continuava se desculpando, muito sem graça, diante dos olhares reprovadores das suas companheiras de espécie que se mantinham imóveis (e pasmas).

Bater perna, seja lá como possa ser aplicado ao caso, era impossível, por mais que o carnaval permitisse tudo. O que passava não era mais o que era pra ser visto e o por vir também já não tinha graça. Aquela cidade com sensação de fantasma, meio tumultuada completamente vazia e um tanto destruída com cara de filme de fim de mundo, não era bem o que tinha em mente. Pedra que rola demais perde o freio.

1) esclarecimentos aos cariocas e conhecedores de geografia: sim, sei que nada disso procede no mapa.
2) consultando no google, a gávea não é uma montanha audaciosa que quis dar um rolê.

1.9.09

carros


Quando eu chego em casa e o porteiro me chama antes de abrir a portaria, é carta registrada, lá vem merda. Ou morreu alguém e o telegrama chegou, ou é o detran. Pelas bênçãos dos céus até hoje sempre foi o detran.

Eu olho pra ela e ela me devolve um olhar meio singelo, como se fosse propaganda de loja de roupa. Avalio qual jeito de abrir vai ser menos ofensivo, se picotando ou se rasgando pela cola. Geralmente picoto, o risco de tirar um pedaço das letras e não entender a mensagem é tentador.

"Você estacionou onde não devia, embaixo da placa de proibido estacionar". Notificação de autuação e defesa prévia. Acho muito engraçado um documento vir com orientações enormes para você discordar dele. A CEB não pergunta o que você acha da medição da energia que ela fez, nem o banco quer saber se vc não acha que gastou tanto assim no cartão de crédito. Enfim, lógico que eu vou discordar. É grátis.

O detran fica longe e, curiosamente, o pátio pra vistoria ocupa todo lugar parável e não tem vagas pra que não vai fazer vistoria. É um lugar onde os funcionários economizam palavras e, curiosamente, se comunicam apenas por ruidos e gestos. Minha defesa ocupou poucas linhas, basicamente "Não era meu carro que estava lá, vocês se enganaram".

A resposta veio em forma de "notificação de penalidade", ou "sim, você estava parada lá, nosso agente anotou". GRANA. Credo, que falta de diálogo. Eles nem querem debater aquela coisa metafísica de onipresença da matéria, energia quântica, que o que você acha que existe na verdade nem é bem o que você vê...

23.8.09

equinos


O maior problema agora seria como preencher aquila situação no campo "descrever ocorrência" do formulário do seguro do carro. Como ia explicar que além do conserto do sinistro da picape alheia, ia precisar também pagar os danos morais aos cavalos.

A maioria das pessoas bate num carro comum, chateia o dono, bota a culpa num terceiro, ouve um esporro sobre a distância regulamentar do carro da frente, aciona o seguro, e enfim, a vida segue. Ela, enquanto tentava ver qual rádio o moço do carro da esquerda tava ouvindo - uma música espetacular, meio do norte meio dançante -, entrou de bico no carro da frente. O carro da frente, uma picape, transportava 6 toneis de uma empresa de inseminação artificial de cavalos.

O zérruela motorista perdeu a voz, e antes de xingar a moça, ligou pro chefe, o dono da empresa de fornicação artificial. Viva voz. Seguiu-se um longo discurso acerca da perda das potenciais vidas que aquele material portava, praticamente um aborto, um infanticídio, um massacre coletivo, e os mangalargas-marchadorezinhos que deixariam de correr no campo e ganhar medalhas?

"Ok, se um cavalo custa uns 10 mila, a quantidade de zeros pra pagar esses potrinhos perdidos não cabe na minha cabeça", ela pensava e fazia as contas enquanto olhava o capô coberto de porra de cavalo. "Claro, isso é problema do seguro".

O seguro disse que não pagava, o padre disse que eram de fato vidas, o mecânico da oficina riu por 15 minutos, o advogado disse que cabia recurso. O pai disse que ela tem que botar a cabeça no lugar e a mãe não soube o que comentar, o tio perguntou da qualidade do material e se tinha sobrado um pouco pra levar pra fazenda, a amiga disse "caraca, isso só acontece contigo" e, enfim, a vida segue.

17.8.09

agosto


do mesmo jeito que uma noite de bebedeira vem seguida de um dia de ressaca e uma noite de putaria pode trazer um filho, o mês que traz o inverno capricha nessa noção de que nenhum prazer sairá impune. esse mês que deixa a cidade incrivelmente bonita e o inóspito se colore como em nenhum outro.

a gente esquece que a grama tá sem cor porque o barro fica vermelho, os ipês gritam em tons que estouram o contraste, o pôr do sol queima rosa-laranja num céu azul-sem-nuvem e a luz mais dourada ainda banha isso tudo numa paisagem de sonho, ou foto, ou ambos.

os olhos se distraem nessa extravagância e esquecem que não conseguem piscar direito porque falta lágrima. enquanto a visão se ocupa o pulmão se afoga ao contrário e o nariz procura água.

e de tanto admirar acho que a gente vai virando cerrado junto, a pele seca e racha, como se quisesse virar calango também.

11.8.09

a seleção natural tarda

Estive pensando em grandes inovações biológicas pro corpo humano, isso que chamam por aí de evolução.

a. Dentes únicos. É, uma fileira única de dentes, tipo uma mandíbula pra fora e afiada. Eles não cairiam nem entortariam, não teríamos que ter o hábito incômodo de passar fio dental e as crianças não sofreriam os traumas associados aos dentes de leite.

b. Polegares opositores nos pés. 4 patas pegadoras pegam mais do que 2 patas pegadoras. Sabemos que o sonho de todo hiperativo ansioso é mexer no controle remoto, pegar no garfo, digitar e estalar os dedos ao mesmo tempo.

c. Pra quê pêlos até hoje? A gente já usa o calor e os pêlos alheios pra evitar a tremediera. Já tem cobertor elétrico, edredom, aquecedor de carro, casaco, cachecol, lã de alpaca, gorro e meia pra usar com havaianas.

d. Menstruação dose semestral. Mulher não é lua pra ficar tendo fases mensais, quem quiser ter filho que planeje no calendário. Toneladas de obs e 10 tpms a menos melhorariam demais esse mundo.

e. Ouvidos auto-tampáveis. Se temos pálpebras nos olhos, as cartilagens dos ouvidos tinham que se mexer também. Seria muito útil nesses dias de poluição sonora constante.

f. Reaproveitamento de sobras. Já tem o telhado-grama, a caixa d'água inteligente e a privada de 2 descargas, me poupa. Isso de xixi-cocô-suor é muito retrô.

Capricho pessoal, a hibernação. Tem semanas que não se passa nada de novo. Dormir e sonhar por 6 dias e passar o 7étimo escrevendo sobre o ocorrido..

29.7.09

fonética monetária




Brasileiros, estadunidenses e búlgaros conversam sobre dinheiros em um idioma embriagado e incompreensível:

Bul: "E essa é a nota de 20 "klustkis" da bulgária."
Bras: "Ah tá. E quanto vale?"
Bul: "Ah, uns x euros. E esse é o fulano, inventor do sistema de alfabetização da bulgária. Como se diz isso em português?"
Bras: "A-bê-cê-dá-rio? Deve ser."
Est: "Acho que não temos isso... é tipo phonems?"
Bras: "Fenômenos?"
Est: "PFFFonemms? Os sons das palavras?"
Bras: "Ah, deve ser."
Est: "Pois a nossa nota é o dólar, conhecem né? Tem o presidente x, que fez não sei que, não sei que e tem um monumento não sei onde."
Bul: "Vocês tem dinheiro do brasil aí?"
Bras: "Sim, chama-se reais"
Est e Bul: "Rrrrréaish? Nice. Beautiful, é colorido. Que que tem atrás? Bichos? O dinheiro de vocês tem peixes e tartarugas? E quem é essa moça?"
Bras: "Hm... Miss Liberty."

E depois não quero que achem se vive na selva.

18.7.09

onde boto?


Algumas famílias têm sótãos. São aqueles quartos em cima das casas normalmente de difícil acesso e naturalmente sujos. Outras famílias têm porão. Aquele quarto embaixo das casas que são mais fáceis de chegar e menos empoeirados que os sótãos, mas os mofos costumam subir em suas paredes. As que moram em apartamentos têm os armários na garagem, com portas geralmente empenadas e cadeados que não abrem direito. A diferença dos armários de garagem é que eles guardam também os feijões e açúcares que não couberam na despensa do apê. Resquício daquele hábito que as famílias tinham naquela época dos 90, quando faltava comida e ter 20 kgs de arroz em casa era perfeitamente aceitável.
Todas essas são instalações que servem para guardar toda categoria de objetos que não são tocados há mais de 5 anos, mas ainda tem uma chama de utilidade futura.
Pessoas desorganizadas, seja lá onde vivam, costumam ter sótãos próprios: o porta-malas. Começou pelo casaco. Depois chegaram os chinelos, tênis e algumas outras roupas. Livros, patins. Descobre-se que o porta-malas é o espaço ideal e infinito para todos os itens que atravancam o quarto. Tudo funcionou muito bem na minha cabeça até o moço que ia lavar o carro abrir o porta-malas, me olhar e suspirar um "......nosssa...." tão sincero que ruborizei. Velhos hábitos..

9.7.09

MJ

Quanto mais a reporter falava que não tinha nem hora nem o local marcado pro enterro de MJ, mais eu ficava ansiosa com aquele velório-showmício.
Eu tinha certeza que aquele clima musical de luzes e cores e brilho não era acaso. Passei a tarde esperando. Depois do 50º discurso e 23º musical, ia ser incrível se o caixão abrisse, e em meio a luzes de neon e fumaça de gelo seco, saísse um cover (ou numa viagem mais intensa, o próprio) moonwalkando e "who´s back!! tã..tã-tã.. tã-tÃ!".
A platéia chocada, os fãs entre revoltados e esperançosos - será que é ele mesmo -, os repórteres perdendo o ponto pra não divulgar o furo com a voz tremendo e eu rindo alto e me achando profeta.

5.7.09

chá de gripe


Em tempos de inverno e gripe, recomendo um chá miraculoso descoberto aqui. Tem toda a historinha, vale gastar um tempo lendo dos milagres das plantas.
2 estrelas de anis + 2 paus de canela + 2 cravinhos + pedaço de casca de tangerina + torinha de gengibre
Funciona mesmo, tava meio baqueada e sarei de pronto (não usei pimenta, lá em casa esse condimento é vetado).

Não gosto de inverno. Demoro pra entender que tá frio e passo semanas de tremendo de regatinha. O inverno, frio, julho me lembra meu cobertor verde e um par de meias roxas que eu tenho desde sempre. Lembra fogueira, aquele procedimento de ficar rodando na frente do fogo: esquenta a cara e esfria as costas sucessivamente, isso deve fazer mal. Lembra também gripe, litros de chá e experiências gastronômicas envolvendo muito queijo, vinho, creme de leite e chocolate. E uma frutinha (flambada e com açúcar) pra não dizer que eu esqueci da formação...

25.6.09

décimo, por favor


Quem trabalha em prédio alto com elevador sabe das maravilhas que essa caixa é capaz de fazer com a natureza humana. Um desses elevadores com capacidade pra 15 pessoas e 12 andares, lotado, com o ar-condicionado quebrado e uma televisão acesa.

- Da espera: todos fazem contas mentais de quantos caberão na máquina que já demora 3 minutos sem aparecer, e cronometram quanto demorará o próximo vagão. Alocam seu peso em uma das pernas e deixam o pé de ataque livre para agir. Olham pros concorrentes ao redor fingindo que nada se passa e às vezes acontece o balanço de cabeça/sorriso significando um amistoso "bom dia, mas fica esperto".
Pensamento: quando eu for atleta, começo a ir de escada.

- Da entrada: isso de preferência pra mulheres não existe desde que o elevador foi inventado. Todos se acotovelam gentilmente e fingem ceder a passagem pra alguém. É corrente não deixar quem está dentro sair antes dos que estão fora entrar, formando 2 barreiras humanas. Mas acho que isso é costume regional de brasília, cidade que não tem metrô.
Pensamento: "Por que essa galera do 1o andar não foi de escada?"

- Da estada: 12 andares pode durar vários minutos. A televisão roda assuntos aleatórios: valor de passe de jogador de futebol, taxa de câmbio, promoção da volks e o último número da gripe do porco. Tem gente que usa perfume demais, tem gente que cheira a cigarro ruim recém fumado e tem gente com cheiro de suvaco.
Pensamento: “Se eu prender o ar vai alterar minha percepção cronológica. E olfativa”

- Do assunto: Graças a deus o tempo curto não deixa os assuntos se desenvolverem. Invariavelmente ouve-se uma das seguintes frases:
“Calor hein? Acho que o ventilador não ta funcionando.”
“Tá frio, tempo doido.”
“Engarrafamento brabo.”
“Peraí que o celular não ta pegando, a claro é foda”
“Podia já ser 6 horas”
“Ai, segunda feira....”
“Cara, já é sexta.”
“Se cair, do chão não passa”
“Sabe que a minha tia operou e o cunhado dela saiu da clínica e era rinite.. e.. e.. e...” Tem gente que não interrompe o assunto, seja lá com quantos esteja dividindo espaço. Me divirto com essas.
Pensamento: evita-se pensar.

- Da descida: Esperar o elevador no último andar pra descer e ele chegar lotado é das coisas mais absurdas que acontecem às 18. Na minha imaginação infantil, o elevador vem de cima, lá da cobertura, e como não tem ninguém lá, era pra chegar vazio. Bom, entra-se. Em cada parada uma pessoa pensa a mesma coisa que eu, e entra também. Não existe isso de “não caber mais”, sempre cabe mais um, ou dois. SEMPRE penso naquele joguinho dos bonecos de espuma que não cabem no prédio e explodem.
Pensamento: “Por que esses amáveis do 1º andar não vão de escada?”

15.6.09

equador


Respeitar as metades e as linhas.
Entendi porque a passagem de pessoas de um hemísfério pro outro da terra altera completamente o conjunto biopsicosocial. Do mesmo jeito que as águas que descem na privada e na pia mudam o sentido do rodopio de uma metade para outra, todos os líquidos do corpo também o fazem, causando um revertério orgânico complexo. Não sei exatamente que hora isso acontece, mas desconfio que quem mora ali nas proximidades do equador, além de conviver com o calor latitude zero, deve ter outro modelo de circulação pra dar suporte pra essas coisas de rotação e aceleração do planeta, fluidos e correntes.

O que importa é que eu acordei às 6, meu relógio marcava 11, tentei pagar o ônibus com eurocents, desci na parada errada, meu trident ainda é do sabor "rainforest mint senses" e ainda não tive coragem de olhar minha página do banco do brasil. É.. as voltas são difíceis.

Para arejar as idéias, milhões de façam vocês mesmos. De bolo de chocolate a bolsa de banner.

2.6.09

O celular acordou mal, sem bateria e me pedindo pra trocar o chipe. Claro que não foi com essa clareza, ele disse "mudar SIM - falha no registro". Não entendi e liguei pra vivo. De outro telefone, porque o meu tá "só emergência". E isso É uma emergência, em breve descubro pra quem eu informo isso.

Pois bem. Passo 1.
Telefonar pra vivo é quase tão desagradável quanto pegar engarrafamento, tipo um engarrafamento que a gente tivesse que ficar verbalizando algo com alguém que não tá querendo te entender. Liguei, relatei o ocorrido pra 5 pessoas, confirmei meu cpf, nome e endereço 3 vezes, expliquei que "asa norte" é um bairro, recebi 2 protocolos e uma sugestão de ir à loja vivo mais próxima. Se eu quero atribuir nota pro serviço? Melhor não.

Passo 2: a loja.
Os dois moços da recepção cumpriram o ritual de tirar o chipe velho, soprar, encaixar de novo, trocar com o chipe do aparelho deles. "É, não deu".
A atendente sentada do computador também fez o mesmo procedimento modelo. Passamos para a entrevista padrão-hospital "desde quando ele tá assim?". Batucou no computador. Nada. Ligou pra alguém. Nada. Trocou por outro aparelho. Nada.
No auge dos 45 minutos de emoções, ela me entrega o celular dela pra eu falar com o vivofone online dela. Eram 17:30 e todos os atendentes já tavam naquele clima de fim de expediente, lendo as notícias do avião da air france. Decerto minha expressão facial acompanhada de um "HÃ?!" foram bem colocados, ela recolheu o braço e colocou o vivofone de volta no ouvido dela.

O que passa é que é caso muito raro, nome que eles dão pra quando ninguém sabe resolver. Requer acompanhamento técnico. Me pediram 24 horas pra analisar a situação.

"Então tá, tchau, obrigada"
"A vivo agradece sua paciência e até amanhã!"
....

27.5.09

órgãos e seus caprichos

depois de n camarões empanados com catupiri e alguns goles de coca, concluí que certos agrados ao paladar não compensam o desagrado do estômago. pra compensar tentei afagar o interior com chá verde, que a minha boca não gosta muito. isso de ouvir o que o corpo fala dá trabalho. não deu pra agradar todo mundo: o gosto de catupiri ficou amargo pelo chá e ainda estufada de fritura, tomei um digestivo, bochechei um cepacol de menta e fomos todos dormir.

20.5.09

Eu gostava muito de quando a internet era burra e não entendia o que a gente fazia. Ou parecia não entender. Ou passou anos fingindo e armazenando informações enquanto a gente passeava frenéticamente em todas as novidades internêuticas.
Pois bem, essa era passou. Agora é tudo rastreado, uma irritação.

O gmail tem uma mania horrorosa de associar propagandas e links ao que a gente escreve nos e-mails. Aí o que acontece é você comentar pra um amigo seu alguma coisa sobre um curso de francês que você tá fazendo e passar o mês olhando links de agências de viagem pra frança e propagandas de cursos de francês online.

O submarino diz que "você também vai gostar de ..." e dá uma lista das últimas coisas que eu entrei. Se você comprou esse livro de alimentação provavelmente também vai querer comprar uma balança, ou uma iogurteira. Hã? Pior é que às vezes eu gosto. Tá tudo tão previsível assim?

Visitas em sites/blogs: os donos e o mundo sabem que vc visitou, que hora, quantos comentários leu, quantos minutos gastou tentando entender cada coisa. Estratégia desses infernos de contas de megaportais, que te dão um e-mail, um orkut, um blog, um mapa, um desconto. Tô aguardando meu celular grátis.

E a audácia do google, que troca aquele texto com figurinha toda semana pra parecer mais amigável, e depois te corrige. TE CORRIGE! "Você não quis dizer...?". Em itálico mesmo pra parecer mais polido. Não, eu não quis dizer nada disso, procure a ignorância que eu digitei, sim?

Muita falta de respeito.
Tô esperando o dia da extinção dos panfletos de pizza de 9,90, em troca de uns papéis do que eu penso em comprar mês que vem. E começar a ouvir uns jingles no mp3? E as teclas baterem sem meus dedos batucarem? Uau.. aí quero ver.

15.5.09

Sobre o palavreado

O proibido é muito mais interessante.

Assim acontece com aquela seleção de palavras que passamos 15 anos sendo doutrinados para não usar, e que no fim acabam sendo a melhor forma de pontuar e qualificar a maioria das coisas do cotidiano. Todas as situações estressantes, pessoas insuportáveis e mazelas do dia a dia são muito mais aceitáveis se vierem acompanhadas de uma palavra de baixo calão. Recomendo seu uso como uma espécie de terapia. Experimente trocar "ó, que pena" por "puta que pariu". "Foi muito legal" por "foi do caralho" e "não gostei de sua atitude" por "vai se fuder no inferno seu puto".

Sem mencionar a versatilidade de tal classe gramatical, passam de numeral a verbo, adjetivando e adverbializando tudo. Reciclam a língua e aproximam a elite do povão; o patrão e o empregado não economizam os "cacetes" numa discussão acalorada. E a patroa não hesita em citar que "eu acabo com tua vida sua vaca" quando a empregada vem comentar que "te boto na justiça sua cachorra".

Acho lindo. Desopila o fígado.

12.5.09

jogue seu lixo na sala - "Como não pensei nisso antes?"

papel de cocô de elfante
Quem diria. O elefante come toneladas de plantas e seu cocô é um amontoado de fibras... o bicho praticamente caga papel reciclado, só precisa dar aquela maquiada. O fabricante garante que não tem cheiro.






mesinha de lista telefônica
Nada de diseño escandinavo, isso é criação de brasileiro. Lembrei daquelas lanternas de japa das festas juninas, trabalhoso e lindo.



me dá danoninho! Uma luminária. Juntar esses potinhos pra fazer outra coisa que não chocalho de arroz pros meninos pequenos ficarem ritmados.




prédio de pias de Sink city.

7.5.09

48º

Há exatamente 1 ano atrás peguei um engarrafamento num fim de tarde nem tão quente. Um relógio digital desses de propaganda que marca a hora sempre errada e a temperatura mais ainda marcava 48°. E tem tantas coisas mais nesse número que esse relógio podia querer me dizer..


- A cerveja tá quente, com espuma e choca.
- O chocolate tá morno, a nata já tá dura.
- O chá, fraco.
- Piscina pelando, os moleques saem correndo e os velhos ficam murchos.
- Estudou pouco pro concurso, não deu.
- Muito bem colocado na maratona, valeu o treino, da próxima vai.
- O dia mais quente do ano, com certeza. Dia de magnata do sorveteiro e de glória da garota do tempo.
- Ângulo muito fechado, a porta não vai abrir direito.
- Elefante.
- Dois dias.
- Quase 1 minuto.
- Quase bodas de ouro.
- Quase cinquentão.
- Pro norte, se o piloto bobeia chega na islândia.

Pronto, se joga na sena agora!

4.5.09

IRPF 2009

É... saí da categoria "isentos". Não posso mais digitar meu cpf e me preocupar só com onde guardar aquele recibinho. Há uns dias atrás preenchi os formulários horrorosos do imposto de renda. Xinguei o tutorial, o governo, a fazenda e todos os envolvidos. E a saída foi nerdemente reunir todos os conhecimentos bancários/econômicos que minha cabeça por ventura já tenha abrigado. Durante, continuei reclamando da fonte pequena e do programa feio. Sério que eles acham que todo mundo entende o que são "rendimentos não tributáveis"?

Fora o sentimento "burrice", surge o "como se dar de bem?", tipo uma pilantragem legal mesmo. Algumas coisas me ocorreram:
a) por que não deixar pro último dia, uma vez que a restituição vem com juros?
b) idas a shows internacionais podem constar como "incentivo à cultura"? E entrada de cinema?
c) natação pode constar como "incentivo ao desporte"?
d) depreciar o valor do meu carro vai me ajudar em alguma coisa?
e) no dia 30/12/2009 vou rapar minha conta. vai ser muito divertido ano que vem eu escrever "saldo em 31/12 = 0")
f) graças àquela fanfarra estadunidense de 2008 minhas ações renderam ZERO e não tive nem que falar que elas existiram. *puf*. virou nada.

Mas pronto. Passou. Cumpri meu dever cidadão-cívico-legal para com a República Federativa. Achei bonitinho que no final ele me avisou "se vc fizer a declaração completa vai se dar menos mal". Sincero, né?

Agora já dá pra voltar a reclamar de boca cheia do seguro milionário que eu tenho que pagar pq o trânsito não funciona, das verbas indenizatórias que eu não recebo, do meu salário que não aumenta, da cassi que eu tenho que pagar pq o posto de saúde não funciona, etc, etc, etc...

28.4.09

estreia 2

Parece que criar um blog é um processo fácil. Parece, em negrito, ressalto.
Já ameacei criar um algumas vezes, e entendi que um blog é uma verdadeira provação para os librianos indecisos e para os info-ignorantes. Eu, enquanto pertencente das 2 categorias, devia ter desistido.

Primeiro tem a etapa do "sobre o que escrever". Isso levanta algumas questões ético-pessoais, tipo, se abrir ou não pro mundo, falar mal do engarrafamento? divulgar receitas? ou contar piada, ou o quê mesmo? Daí decide-se escrever sobre qualquer coisa, o mais certo a meu ver.

Ok. A próxima etapa é: onde hospedar essa baixaria? O blogger me diz "é fácil, poucos passos, crie o seu agora" e aproveitando o logon já feito, aceito. O fácil a que eles se referem é montar um blog horroroso.
Aí entra-se no mundo dos códigos fonte pra tentar amenizar a falta de bom gosto dos templates disponíveis. O processo tentativa-erro-delete-aumenta é um verdadeiro inferno, tem coisas indeletáveis, px mede números e cores têm códigos FFCC00 XXFFBB.

Tudo isso pra dizer que bem que tentei, mas a aparência da bagaça será essa mesmo.

23.4.09

estreia

Saiu uma lista nova dos alimentos mais e menos atingidos por pesticidas, dessa vez pela gringolândia.

As mais contaminadas:
1. Pêssego; 2. Maçã; 3. Pepino; 4. Aipos; 5. Nectarina; 6. Morangos; 7. Cerejas; 8. Couve; 9. Alface; 10. Uvas; 11. Cenoura; 12. Pêra.

E as menos:
1. Cebola; 2. Abacate; 3. Milho doce; 4. Abacaxi; 5. Manga; 6. Espargos; 7. Ervilha-de-cheiro; 8. Kiwi; 9. Repolho; 10. Berinjela; 11. Mamão; 12. Melancia; 13. Brócolis; 14. Tomate; 15. Batata doce.

Por essa lista, entendo que basicamente é só parar de comer as frutas de natal que tá resolvido. Tudo bem.. é caro, estraga rápido, já vem meio amassado e azedo mesmo. Mania de comer coisa do território alheio, credo.

E pro resto, diz que lavar bem e tirar a casca e sementes é bom. Lavar bem ok, é praxe. Mas nutricionalmente falando, se tirar casca a gente perde parte das vitaminas e das preciosas fibras fazedoras de côco.
Planetaverdemente falando, e a história do desperdício, de reduzir o lixo e consumir integralmente tudo, casca, talo, folha, broto e lagartas?
E as sementes? Se não dá pra comer não deve dar pra plantar também. Dá pra confiar na polpa de uma comida que não deve ser plantada porque tá cheia de lixo acumulado?

Comer certo tá muito difícil.