todos os fatos, novidades e destemperamentos que eu queria comentar com mais de 5 pessoas mas tive preguiça de ligar.

18.2.11

quarta-feira

A quarta tava brilhosa e quem entrou primeiro na piscina foi ela.

Devia ter seus 50 e alguns anos, cabelos compridos devidamente enlourecidos e esticalhados, pele pipocada de 50 e alguns anos de exposição ao sol protegida por cenoura e bronze. Desceu pela escada gloriosamente, fazendo o piscinão clorado parecer ibiza.

O esposo veio em seguida. Corpo semi-sarado, barriga semi-chapada e pele igualmente pipocada. Nas costas um brasão do flamengo já gasto, obrigado a aparecer mas visivelmente gritando por arrego. Esperou ela nadar gloriosamente com a cabeça pra fora d´água e dar uma distância. Mergulhou de ponta, como nos tempos idos de praia vermelha.

Não precisava encarar muito nem ouvir o chiado na voz, o casal obviamente era carioca, e, saudosos da brisa marítima e do descompromisso da terra natal, não resistiam a um mergulho casual nas manhãs de quarta.

A atividade e movimentação aquática dos dois só não era mais constrangedora porque parecia ser séria. E tampouco cabia um questionamento inocente, de gente curiosa com a vida mesmo, porque parecia ser caso de saúde, ou física ou mental, ou tara mesmo, não deu pra distinguir.

Funcionou assim. O casal se emparelhava. Ele jogava uma bola de frescobol (tá aí, mais uma prova da gemice da cariocada) uns 5 metros à frente. Ela nadava de cachorrinho até alcançá-la (não, não abocanhou a bolota nenhuma vez). Ele seguia e os encontrava, pegava a bola mais uma vez, jogava, ela pegava, ele seguia, ele jogava, ela pegava. E assim passaram quase uma hora ao redor da piscina, pasmem, sem rir, sem gritar, sem beijar, sem reclamar.

Saíram da piscina, sentaram no bar, pediram uma vodca e cada um acendeu seu cigarro. Ele suspirou e falou alguma coisa muito baixo, que posso quase garantir que era alguma coisa entre "partiu jurerê?" e "foi bom pra você?".