todos os fatos, novidades e destemperamentos que eu queria comentar com mais de 5 pessoas mas tive preguiça de ligar.

26.4.10

toda lei tem uma lacuna

Onofre mora num apartamento do primeiro andar. Onofre morre de calor às tardes, porque além de seu apartamento ter carpete marrom escuro, ele é voltado para o poente. Todo dia, Onofre assiste à novela das 6 pingando de suor na sua poltrona de couro descascado. Pregando e sendo pregado.

E calor é o que mais incomoda Onofre nessa vida, mais do que o choro do bebê da vizinha do 103 ou o cheiro do xixi do gato do vizinho do 202. Ele já estava muito velho, não queria mais essa simbiose com a poltrona e fez um fundo para comprar um ar-condicionado à vista, planejado para 8 meses depois.

Aos 7 meses e meio, Onofre foi infomado que as novas diretrizes prediais não permitiriam instalação de ar-condicionado externo porque "esses ar-condicionados horrorosos afetam a fachada harmônica e orgânica do prédio Villa Verde, o senhor pode optar por um ar interno. Ou deixar a geladeira aberta." Onofre estava puto da vida.

Firmino, parceiro de porrinha de Onofre, tem uma empilhadeira que aluga pra hipermercados. Emprestável para amigos de longas eras, claro.
Onofre tem um opala 85 completo, com ar. Não hesitou em aceitar o empréstimo. Alinhou a janela do opala à janela da sua morada, ligou a chave e assisitiu a novela no fresco. Afinal, as diretrizes prediais impediam a instalação de ar-condicionado fixo, mas nada dizia sobre a instalação de auto-móveis. Onofre não estava mais puto da vida.

Prédio Villa Verde virou parada turística obrigatória na cidade, todo motorista de táxi indica o apartamento 101 e conta alguma lorota, fenômeno igual àquele do doido que fez uma ilha de garrafa pet no rio de janeiro.

7.4.10

fisiologias e compulsões

Perdoem-me os psicólogos e médicos e todos que passam a vida estudando e criando dúvidas e chegando à conclusões. Mas no meu entendimento, a relação corpo-mente acontece da seguinte forma, muito simples: o corpo faz demandas, que são rapidamente avaliadas pelo cérebro e se for o caso, o corpo pode atendê-las e todos terminam felizes. Basicamentee o corpo é um pidão e o cérebro um regulão, mantidas as condições normais de temperatura e ócio, é isso. Relativamente simples.

Quando acontece de o cérebro perder o respeito com o corpo por uma razão qualquer, ele passa a ser pulado nesse processo decisório. Quando o corpo fala diretamente com o corpo e eles se resolvem sozinhos, vualá, temos as compulsões.

O estômago pede comidagorduracomidaaçúcar insistentemente e pá, a boca e as mãos obedecem.

O pulmão pede cigarrofumaçacigarrofumaça e prontamente o indivíduo imbica um cigarro, sem menor avaliação moral e/ou racional.

Pode acontecer também do cérebro perder o respeito consigo mesmo, e passar a demandar coisas estranhas e aparentemente sem finalidade de satisfação química. Como exemplo tem o roer de unhas e o estalar de dedos.

Enquanto invento essa história, me pergunto por que diabos o meu cérebro não veta meu estômago, que insiste em pedir pra minha mão o vigésimo pedaço de queijo e é atendido, em total desprezo à sua capacidade física e noção de suficiência.