todos os fatos, novidades e destemperamentos que eu queria comentar com mais de 5 pessoas mas tive preguiça de ligar.

23.8.09

equinos


O maior problema agora seria como preencher aquila situação no campo "descrever ocorrência" do formulário do seguro do carro. Como ia explicar que além do conserto do sinistro da picape alheia, ia precisar também pagar os danos morais aos cavalos.

A maioria das pessoas bate num carro comum, chateia o dono, bota a culpa num terceiro, ouve um esporro sobre a distância regulamentar do carro da frente, aciona o seguro, e enfim, a vida segue. Ela, enquanto tentava ver qual rádio o moço do carro da esquerda tava ouvindo - uma música espetacular, meio do norte meio dançante -, entrou de bico no carro da frente. O carro da frente, uma picape, transportava 6 toneis de uma empresa de inseminação artificial de cavalos.

O zérruela motorista perdeu a voz, e antes de xingar a moça, ligou pro chefe, o dono da empresa de fornicação artificial. Viva voz. Seguiu-se um longo discurso acerca da perda das potenciais vidas que aquele material portava, praticamente um aborto, um infanticídio, um massacre coletivo, e os mangalargas-marchadorezinhos que deixariam de correr no campo e ganhar medalhas?

"Ok, se um cavalo custa uns 10 mila, a quantidade de zeros pra pagar esses potrinhos perdidos não cabe na minha cabeça", ela pensava e fazia as contas enquanto olhava o capô coberto de porra de cavalo. "Claro, isso é problema do seguro".

O seguro disse que não pagava, o padre disse que eram de fato vidas, o mecânico da oficina riu por 15 minutos, o advogado disse que cabia recurso. O pai disse que ela tem que botar a cabeça no lugar e a mãe não soube o que comentar, o tio perguntou da qualidade do material e se tinha sobrado um pouco pra levar pra fazenda, a amiga disse "caraca, isso só acontece contigo" e, enfim, a vida segue.

17.8.09

agosto


do mesmo jeito que uma noite de bebedeira vem seguida de um dia de ressaca e uma noite de putaria pode trazer um filho, o mês que traz o inverno capricha nessa noção de que nenhum prazer sairá impune. esse mês que deixa a cidade incrivelmente bonita e o inóspito se colore como em nenhum outro.

a gente esquece que a grama tá sem cor porque o barro fica vermelho, os ipês gritam em tons que estouram o contraste, o pôr do sol queima rosa-laranja num céu azul-sem-nuvem e a luz mais dourada ainda banha isso tudo numa paisagem de sonho, ou foto, ou ambos.

os olhos se distraem nessa extravagância e esquecem que não conseguem piscar direito porque falta lágrima. enquanto a visão se ocupa o pulmão se afoga ao contrário e o nariz procura água.

e de tanto admirar acho que a gente vai virando cerrado junto, a pele seca e racha, como se quisesse virar calango também.

11.8.09

a seleção natural tarda

Estive pensando em grandes inovações biológicas pro corpo humano, isso que chamam por aí de evolução.

a. Dentes únicos. É, uma fileira única de dentes, tipo uma mandíbula pra fora e afiada. Eles não cairiam nem entortariam, não teríamos que ter o hábito incômodo de passar fio dental e as crianças não sofreriam os traumas associados aos dentes de leite.

b. Polegares opositores nos pés. 4 patas pegadoras pegam mais do que 2 patas pegadoras. Sabemos que o sonho de todo hiperativo ansioso é mexer no controle remoto, pegar no garfo, digitar e estalar os dedos ao mesmo tempo.

c. Pra quê pêlos até hoje? A gente já usa o calor e os pêlos alheios pra evitar a tremediera. Já tem cobertor elétrico, edredom, aquecedor de carro, casaco, cachecol, lã de alpaca, gorro e meia pra usar com havaianas.

d. Menstruação dose semestral. Mulher não é lua pra ficar tendo fases mensais, quem quiser ter filho que planeje no calendário. Toneladas de obs e 10 tpms a menos melhorariam demais esse mundo.

e. Ouvidos auto-tampáveis. Se temos pálpebras nos olhos, as cartilagens dos ouvidos tinham que se mexer também. Seria muito útil nesses dias de poluição sonora constante.

f. Reaproveitamento de sobras. Já tem o telhado-grama, a caixa d'água inteligente e a privada de 2 descargas, me poupa. Isso de xixi-cocô-suor é muito retrô.

Capricho pessoal, a hibernação. Tem semanas que não se passa nada de novo. Dormir e sonhar por 6 dias e passar o 7étimo escrevendo sobre o ocorrido..