todos os fatos, novidades e destemperamentos que eu queria comentar com mais de 5 pessoas mas tive preguiça de ligar.

27.10.09

sobre o desleixo

Enquanto eu estiver perdendo só as minhas coisas, tá tudo ótimo. Tenho perdido coisas. Entre amarrar todos os meus pertences com um barbante e criar uma teoria que me isente da falta de cuidado, fiquei com a segunda opção.

Quem já viu aquele filme "quem somos nós?", que divaga cheio de gracinhas sobre uns temas intimidadores da física, e já ficou grilado com as múltiplas possibilidades da matéria vai entender melhor meu ponto. As coisas, assim como as pessoas, tem carmas e destinos e partículas que atraem e repelem tudo ao redor.

Por exemplo, quando compramos um óculos, ele vem de algum lugar e é feito de alguma coisa. Por algum motivo desse nosso sistema, você acha que ele te pertence porque você deixou uns dinheiros na loja para tê-lo em sua cabeça. Mas isso é mentira. Ele não é seu, o que foi pago foi apenas uma breve permissão de companhia. Ele está com você e não adianta pagar seguro, pendurar cordinha nem amarrar a caixa na bolsa, quando ele quiser ir embora, ele vai.

Pois bem. Assim todos os contratempos que temos com objetos podem ser entendidos como o seguimento de seus cursos naturais, por isso que batemos o carro, perdemos os celulares e manchamos roupas. Não é nossa culpa. Me parece também que quanto maior nossa simpatia pelo bem, maior a chance de perder, deve ter uma relação inversa de gostar muito/tempo permitido de pemanência na posse.

Pronto, muito fácil me convencer.

21.10.09

zapón

Abstraindo completamente o meu pseudo-vegetarianismo, na base do "você é vegetariano, mas come peixe, né?", me aventurei no mundo das palavras de 10 sílabas incompreensíveis do faça-sushi-em-casa.

1. O arroz nipônico é vendido na prateleira mais escondida do mercado e é da variedade "californiano". Terra americana do suco de laranja e surf platinado. Não entendi.

2. Enquanto a gente faz arroz num refogadinho de alho queimado com cheiro de almoço, eles recomendam um tempero de vinagre, açúcar e glutamato. Se eles fizessem farofa ia ser com gelatina sem sabor.

3. Salmão, que na minha cabeça continua sendo um quadrado de plástico-silicone, tem uma pele esquisitérrima, que depois eu associei ao que é chamado de "skin" nos restaurantes e tem gente que adora. O equivalente nacional seria uma coxinha recheada de pele de frango a passarinho.

4. Salmão só deixou de parecer plástico quando meus dedos ficaram aproximadamente 6 horas com cheiro de peixe, que não se abalou com detergente, sabão em pó, acetona e álcool.

5. A parte lúdica, de montar os rolinhos, beira o completo descontrole. O arroz, que era pra grudar na alga, gruda na mão. A alga, que era pra ficar parada, gruda no pote de água, que era pra servir pra não grudar a mão no arroz. Os dedos, que eram pra ser cinco por mão, viram uma espátula grudenta. A faca, que era pra cortar as fatias, perde o fio sozinha e a alga, que no pacote era seca e quebradiça, vira um quase tecido. Logo, não espere nem rodelas nem redondas.

6. Temaki me convenceu ser a mais esperta decisão da cozinha oriental para amadores, isso de fechar os sushis é algo para poucos. O recheio perna de grilo é muquirana demais e o que na minha cabeça seria o aceitável não deixa que os dois lados da alga se abracem. E a alga não aceita remendos.

Bem, empanamos as rodelas feiosas num procedimento teriaki-gergelim para enganar o olho e agradar o estômago, almoçamos e sobrevivemos. Para poucos.

13.10.09

no museu




Projeto de intervenção urbana, procuro parcerias.

Nos piores eventos nascem as melhores ideias:


- Agora, vista boa, boa mesmo do palco, deve ser lá de cima do museu. Queria era ver o show lá de cima.
- Área vip total. Ia ser bom subir ali com uns desentupidores na mão, tipo homem aranha, acho que dava pra chegar lá em cima, fácil.
- Ou então podia jogar uma corda, né? Atravessava ele todo e prendia lá em cima, e as pessoas subiam segurando a corda.
- Corda né.. interessante. E pra jogar? Será que dava pra passar a corda amarrada num carrinho de controle remoto?
- Acho que não..Tem que ter muito atrito, é muito vertical, muito liso.
- Tinha que ser um arco e flecha, um.. como se chama? Arpão?
- É, aí dava. Em várias direções, pra todo mundo subir simultâneo.
- É...mas inviável, sujar a bola toda, ia ficar cheia de pegadas de barro.. Ela já é meio sujável e não pintam nunca.
- Ah, então. Era só botar uns tanques de cal ao redor, as pessoas pisavam na tinta branca e subiam. Ainda ia ser um serviço de utilidade pública.
- Nossa.. e se os tanques fossem de tinta colorida, assim, tons harmônicos? Ia ficar bonito demais.
- Nossa... ia ser genial. Será que niemeyer ia ficar muito puto quando visse?

6.10.09

sobre sabões e comidas


Tudo culpa do frank.
Frank, o moço que me corta os cabelos, insistiu mais uma vez que xampu pra ser bom mesmo não pode ter sal, que se eu insistir nesses potes bonitos e cheirosos da unilever que não entram na europa nem pra lavar pelo de cachorro em pet shop, meu cabelo ia cair antes dos 40.
"mas xampu sem sal não faz espuma..."
"garota, essa espuma de propanopil de fosfanolina pode te dar até câncer. mas você que sabe."

É, eu que sei. Parei admirando a seção de lavadores de gente, no mercado, no domingo. Com toda bravura que envolve ir ao mercado nesse dia, com todos os funcionários públicos comprando as compras do mês e o tecladista de churrascaria tocando "la vie en rose" alto, bem alto.

A primeira coisa que eu entendi é que as mesas redondas da área de criação da indústria cosmética devem envolver psicotrópicos pingados no café. É tanta criatividade que desnorteia, incomoda.

A segunda coisa que eu entendi, mais intrigante ainda, é que tudo naquela área de embelezamento envolve algum tipo de composto comestível, orgânico, natural e tudo parece delicioso e brilha. Todo pote é cheio com alguma fruta exótica dos confins da amazônia, de uma erva e/ou composto medicinal oriental e algum químico recém descoberto. Tudo ligeiramente impronunciável, pra gente não lembrar de procurar no google depois.

O fato é que além de alimentar a esperança de o meu cabelo não ter mais sal, fiquei com fome. Pirei num creme de morango com hortelã elegantemente derramado em uma torradinha e hidratante de castanha com ameixa para sobremesa, em cima de um pudim. Perdida entre as ideias de cotovelo ressecado e uma provável intoxicação alimentar, desisti.

Mas aí fiquei pensando nessa relação comida/cosmético, de já que a gente não consegue comer bem pela via normal, tenta compensar com um "comer" bem por fora. Aquela coisa de a gente achar que faz bem sem sacrifício, castanha no óleo de banho não engorda. Ou ainda, já que não dá pra abrir mão da picanha do almoço, ainda dá pra esfregar cupuaçu com ylang ylang na pele e esperar. Vai que compensa.