todos os fatos, novidades e destemperamentos que eu queria comentar com mais de 5 pessoas mas tive preguiça de ligar.

18.11.11

tinganei - subway

- Pratchedsuiçsss?
- Oi?
- Pratochedasuiço?
- Er....(espremendo os olhos)... oi?
- PRATO, CHEDDAR ou SUIÇO? (não foi acompanhado de "porra" porque ali eu ainda era cliente, e a fila ainda era grande).

Eu não tinha entendido. E escolhi suíço, mesmo tendo certeza de que seriam todos iguais.

Além de eu não gostar desses lugares em que o conhecimento prévio do protocolo é necessário, o subway é o maior blefe do comércio. É a lanchonete mais tinganei do mundo.
Pra começar, você se aproxima procurando uma fatia de mister pizza, que é o cheiro que sai de lá.
Aí olha aquela decoração de tijolinho-da-fazenda-da-vovó com umas fotos de hortinha-frutas-felizes e pensa "ótimo, não é pizza mas vai ser crocante e saudável."
Trocado o contato visual com o atendente, começa a picaretagem automatizada.
Tem 5 tipos de baguete que tem o mesmo sabor, integral tinganei, parmesão saborizado tinganei, e outras misturas de trigo tinganei.
Tem 6 tipos de carne esmigalhada - aquele pratinho de plástico com um bife de frango cortado - vulgo teriaki - é o fim da picada.
Tem lembranças de vegetais diversos, quanto maior a variedade pedida menor a chance de achar eles dentro do sanduíche.
E na hora do tempero ainda dá pra sofrer da mesma surdez da hora do queijo:
- Azeitorégansal?
- Er... ahn?

9.7.11

da fantástica nóia do cotidiano

1. do despertar.

Gosto de acordar com o despertador do celular. Pra isso tenho que garantir que ele esteja carregado, programado e ligado.
E distante da minha cabeça e ao alcance do meu braço, pra simultaneamente eu proteger meu cérebro e meus sonhos das ondas telemagnéticas e não precisar me mexer muito pra alcançá-lo de manhã e enfrentar a primeira peleja diária: a função soneca.
O cálculo deve ser rápido e preciso: quantas vezes eu posso apertar o botão, pensando em quantas vezes seguidas eu preciso acordar e dormir antes de levantar para ficar bem disposta e não chegar no trabalho 30 minutos atrasada. Geralmente são 2 vezes de dez minutos.
Nesses 10 minutos de convivência com a benevolência do universo - dormir 10 minutos quando não se quer acordar é um prêmio - acontecem sonhos dos mais diversos. De continuação das cenas dos capítulos anteriores às primeiras cenas do dia, tudo é possível.
Acordada, partimos para as próximas cenas: tomar banho? o que tem que levar comigo mesmo? como vou pro trabalho mesmo? tomar café? comprar a revista vida simples? não fazer nada disso amanhã? - da fantástica nóia do cotidiano.

14.6.11

enxaqueca


Dor de cabeça na minha aleatória e não-científica ideia é algo que acontece quando o cérebro encaixotado quer sair, explodir que nem bolha; e que passa com uma novalgina e um cochilo.
Na mesma simplicidade e na maior intensidade, enxaqueca é uma dor de cabeça destruidora que passa com 3 novalginas, uma noite de sono mal dormido, uma toalha na testa e muito, mas muito silêncio.

Pra variar um pouco, meu conceito criado não era tão simples assim.

O nome da loja era VER, e a princípio, era só uma loja de badulaques vestíveis e penduráveis nas cabeças e corpos femininos. E estava eu lá, na loja VER, mexendo nas etiquetas e procurando pechinchas. Minha cabeça já cansada de não entender direito o castexxxxano e já frita do sol de 55 grados dava seus últimos suspiros de entendimento.

Foi quando, de repente, plam, não consigo ler a etiqueta.
"Opa, essa está fora de foco. Vou tentar outra. Eita, essa também. E essa, e essa. Caceta, tô ficando cega! Eu aqui, na loja VER, sem conseguir enxergar, piada de mau gosto.
Só pode ser castigo de Deus, deve ser pra eu parar de murrinhar etiqueta e me entregar ao consumo.
Ou então deve ser pra eu dar mais valor aos anos e graus de miopia que me acompanham.
Ou então essas merdas de etiquetas estão borradas."

Enquanto reclamava internamente e me propunha as mais variadas explicações, chega a sabedoria milenar materna e me conta que sim, se eu estou vendo como uma televisão fora de foco é porque eu estou com aura de enxaqueca, devo me retirar do rebuliço e ir dormir no ar-condicionado.

E eu, mirim na arte da dor de cabeça, jamais identificaria sintoma tão bizarro e já estava era pensando em roubar um chapéu - sim, roubar, uma atitude anticonsumo que além de me livrar do capitalismo de calçada da caxxxxe florida me levaria na sombra pra iglesia mais próxima - onde eu pediria perdão pelos pecados e pediria mis ojos de vuelta. En castexxxxano, sí.
Ou pra farmácia mesmo, macaquear um "porfavor, señor, mis ojos no se quedan muy bien, dá me una medicina para biarre, para xxxxevar"

Um salve pras mães e outro pras novalginas.

11.5.11

É praticamente inverno, tempo de usar saia-meia-sapato, por mais que eu ache que não saiba lidar direito com meia-calça. Dez minutos em pé e o fundo chega no joelho. Nada grave.

"Oi, tô procurando uma meia-calça, mas não sei exatamente qual. Essa é a única fio 80?"
"É sim, a única."
"É que, assim, a que eu tenho é diferente, tem outra textura.."
A atendente responde objetivamente e sem grosseria, fato raro nesses dias: "Ah, você deve estar falando das bolinhas.. Moça, essa meia tá no balcão há 2 invernos. A gente atende umas 100 pessoas por dia nesse balcão e no mínimo a metade das pessoas puxa essa meia pra sentir o tecido. Pra você ver, pense, umas 600 pessoas já puxaram ela. Acho que ela tá é bem inteirinha, hein..."
"Er.. é... verdade.."

Enquanto pagava a meia de textura zerada algumas coisas me ocorreram:
a) todo mundo compra meias no inverno pra usar com saia e sapato;
b) as minhas nunca terão bolinhas, a possibilidade de 50 pessoas pegarem na minha perna/dia é bastante remota;
c) a vendedora está no serviço errado, devia estar trabalhando no censo e nas estatísticas.

1.5.11

Dos hábitos alimentares

Família Forreita é tradicional do RJ, e desde as vilas de 1800 e pá criou-se e garantiu-se nos interiores se alimentando na base do aipim (regionalismo para mandioca) e chã de dentro (regionalismo para coxão duro).

Ao longo de sua dispersão geográfica, familia Forreita concebeu diversas promessas do esporte - nadadores, maratonistas e ciclistas.

Os atletas Forreita seguiam duros planos de treino, diários, e mesmo com muito esforço não passaram de promessas por conta de uma crise de câimbra (ou cãibra) que, apesar de crise, era crônica. Pobres Forreitas, invariavelmente não terminavam o treino e iam pra casa com a perninha troncha e os músculos repuxados.

O tempo passa e os Forreita se dão por satisfeitos com sua condição de miguelagem muscular, um provável castigo divino pela monotonia alimentar de carne com mandioca experimentada por seus antepassados.

O tempo passa e o Discovery channel, o canal da instigação frenética, em um de seus programas de investigação metabólica descobriu que os Forreita sofrem de uma ancestral-orgânica-hereditária e inevitável carência de potássio. Muito bem, o triunfo da ciência foi celebrado em uma grande festa pelos Forreita.

De acordo com a nutricionista da família, isso explicava, além da inconveniente persistência das câimbras, estranhos hábitos alimentares observados na casa dos Forreita.
As bananas verdes não amadureciam na fruteira, a voracidade pela fruta era tamanha que não dava tempo. O arroz sempre sobrava sem feijão - as conchas da mesa eram daquelas industriais da merenda escolar - e a batata era preferência em todas as idades - e em todas as refeições, por que não?

10.3.11

estatísticas de um samba qualquer

10% extras da conta não foram pagos, graças aos milhões de decibéis que me pouparam da explicação.
20% da cachaça não entrou na garganta, o garçom levou numa trombada e ficou pelo chão, pro santo.
30% do suor não saiu de mim e nem foi por causa do ambiente, veio da solidariedade visual térmica para com uma pessoa que tava de manga longa de flanela.
40% do espaço era pra ficar em pé, e era ocupado por 50% de casais rodopiantes.
60% das músicas eram desconhecidas, mas passaram a ser familiares depois da 5a repetição do refrão.
80% de chance de falar que não volto mais, 90% de isso ser mentira.

18.2.11

quarta-feira

A quarta tava brilhosa e quem entrou primeiro na piscina foi ela.

Devia ter seus 50 e alguns anos, cabelos compridos devidamente enlourecidos e esticalhados, pele pipocada de 50 e alguns anos de exposição ao sol protegida por cenoura e bronze. Desceu pela escada gloriosamente, fazendo o piscinão clorado parecer ibiza.

O esposo veio em seguida. Corpo semi-sarado, barriga semi-chapada e pele igualmente pipocada. Nas costas um brasão do flamengo já gasto, obrigado a aparecer mas visivelmente gritando por arrego. Esperou ela nadar gloriosamente com a cabeça pra fora d´água e dar uma distância. Mergulhou de ponta, como nos tempos idos de praia vermelha.

Não precisava encarar muito nem ouvir o chiado na voz, o casal obviamente era carioca, e, saudosos da brisa marítima e do descompromisso da terra natal, não resistiam a um mergulho casual nas manhãs de quarta.

A atividade e movimentação aquática dos dois só não era mais constrangedora porque parecia ser séria. E tampouco cabia um questionamento inocente, de gente curiosa com a vida mesmo, porque parecia ser caso de saúde, ou física ou mental, ou tara mesmo, não deu pra distinguir.

Funcionou assim. O casal se emparelhava. Ele jogava uma bola de frescobol (tá aí, mais uma prova da gemice da cariocada) uns 5 metros à frente. Ela nadava de cachorrinho até alcançá-la (não, não abocanhou a bolota nenhuma vez). Ele seguia e os encontrava, pegava a bola mais uma vez, jogava, ela pegava, ele seguia, ele jogava, ela pegava. E assim passaram quase uma hora ao redor da piscina, pasmem, sem rir, sem gritar, sem beijar, sem reclamar.

Saíram da piscina, sentaram no bar, pediram uma vodca e cada um acendeu seu cigarro. Ele suspirou e falou alguma coisa muito baixo, que posso quase garantir que era alguma coisa entre "partiu jurerê?" e "foi bom pra você?".

26.1.11

é hard



Minha relação com a informática é dessas de casal explosivo, juras de ódio e amor eterno. De altos e baixos, com baixos consideravelmente mais frequentes e pronunciados que os altos. Os momentos de maior glória e amor foram a conquista do excel, o domínio do redimensionamento de fotos e uah, o antivirus. Os baixos são todos os outros.

Tenho uma particular rebeldia antipática com back up. Depois de perder várias séries de arquivos martelando que "não precisa de cópia porque eu confio no meu hd", me rendi aos caprichos dos gadgets armazenantes. Adorava CDs e botar pra BURN no nero, mas o computador muda completamente numa velocidade maior do que o envelhecer de uma calcinha, e, de repente, não tem mais a casinha do CD em todos os lugares.

Das novidades que se apresentaram para mim, desconfio do pen drive, coisa tão pequena, que comporta tanta coisa e que vende nas americanas por 10 reais não pode ser séria. Comprei um HD, que é maiorzinho, capacidade armazenativa de tudo que eu já produzi até hoje e, talvez por esse detalhe, bem mais caro.

Besta que só eu, voltei ao discurso "eu confio no meu HD".

Até o dia em que, mulher traída, liguei o quadrado na máquina principal e ele estava vazio. Instalada tal catástrofe, mulher traída, tive que acreditar numa história devassa do nível "mas-amor-isso-na-minha-gola-não-é-batom-é-giz-de-cera-das-crianças".

Naquele momento nenhuma explicação podia ser mais clara: meus arquivos fugiram pela janela. Sempre soube que guardar informática perto da luz podia dar problema. Mudada a configuração do quarto, agora mantenho o computador perto da porta, e sempre antes de ligar, fecho as persianas. É melhor prevenir.