Os jovens chamam cerveja de cerva, churrasco de xurras, com x, e fim de semana de findi.
Os acadêmicos chamam relações internacionais de rel, nutrição de nut e biologia molecular de biomol.
Os velhos vão no gastro, no oftalmo, hemato.
Os botequeiros bebem ínhas e óscas. Tem o fla, o flu, o inter e o fogo.
Depois que inventaram esse modelo de gente que opera no modo de diálogo monólogo-autônomo-eterno, também nasceu isso de cortar as palavras ao meio. Acho que foi por aí. Quanto mais as pessoas têm necessidade de falar muito sobre tudo e qualquer coisa ocupando a maior quantidade de ouvidos possível, mais elas reduzem as palavras. Amém, o modo prolixo disso tudo é assustador.
Pode ser também um reflexo dessa coisa de consumo consciente. Acompanhe. Quanto menos sílabas menos se respira, quanto menos se respira menos carbono se joga no ar, e isso é igual a menos efeito estufa, menos destruição, menos consumo e no final sobra mais matéria pra gente comprar mais bobagem mais barato no cartão de crédito. Improvável, mas o ser humano é sagaz nessas relações de causa-efeito improváveis.
Ou é só preguiça mesmo. Ou melhor, preguisss...
Bom mesmo vai ser quando esse comedimento de comer só a última sílaba de algumas palavras for largado. Quando a gula fonética dominar. De tão complicado e incompreensível que ficaria, era capaz que as pessoas abandonassem o diálogo e se entendessem mais.
todos os fatos, novidades e destemperamentos que eu queria comentar com mais de 5 pessoas mas tive preguiça de ligar.
2 comentários:
Ai meu Deus! Acho que opero no módulo de diálogo monólogo-autônomo-eterno....
Boas teorias! Só abro uma ressalva para a exceção: mineiros não sofrem do mal do monólogo eterno, mas o trem de engolir sílabas é dominante na região. Vide o bom e velho "on co tô? pron co vô? on que les tão?"
Em um futuro não muito distante, considerando a teoria de menos fala mais camada de ozônio, Aurélio vai ter que se adaptar:
Conversa: atividade social na qual dois ou mais agentes enviam mensagens via celular ou internet com a finalidade de transmitir conhecimento.
Postar um comentário