diversidades do diário

todos os fatos, novidades e destemperamentos que eu queria comentar com mais de 5 pessoas mas tive preguiça de ligar.

1.2.12

dos fantásticos procedimentos da medicina

A primeira endoscopia que fiz - o café me doía para descer - apareceu no laudo RNC, Resultado Não Convincente, porque as imagens estavam claras demais. Resultado Não Convincente quer dizer nada e qualquer coisa, aproximadamente como levar uma criança no médico e ela ser diagnosticada com "virose". Nada e qualquer coisa ao mesmo tempo.

Bom, larguei o café, mas pior do que a dor do estômago era portar um exame com RNC sem previsão de esclarecimento. Fora que minha medicina pessoal insistia em interpretar RNC como "Renal Crônico", ainda que eu soubesse da longa distância que separa meus rins de meu estômago.

O café parou de doer justamente porque não desceu mais: cortei os cafeinóides da dieta, ganhei um estômago mais feliz e, de quebra, dentes mais brancos. Os cafeinóides foram trocados por cevada - não cerveja, cevada - que não tem a mesma pegada do café mas quebra um galho. E os dentes brancos me fizeram sorrir mais, e de quebra e de impulso, me fizeram comprar uma coleção de batom com purpurina, afinal, sorriso bonito é sorriso que brilha, já me disseram.

Embora estivesse sorrindo bem às custas de gloss melancia e frutas diversas, o RNC ainda me perturbava. Meus rins não sossegariam enquando não fizesse minha segunda endocopia para convencer o resultado não convincente. E assim aconteceu minha segunda excursão ao mundo digestivo.

A segunda endoscopia que fiz teve imagens impressas no diagnóstico. As imagens - dizem - são para esclarecer qualquer dúvida e facilitar o trabalho do médico. As imagens do meu estômago, ao contrário das dos livros de anatomia, eram belíssimas. Tinha reflexo, tinha furta cor, tinha cintilante, era uma coisa entre uma parede de cristais e casca de besouro. Sem modéstia, deu vontade de pregar na parede.

O resultado reluzente agora me convenceu. Os dias e dias de sorrisos brancos com purpurina tinham se acumulado dentro de mim, me cobrindo o estômago da falta de cafeinoides e cuidando com carinho da minha beleza interna. Dá licença que tá na hora da minha cevada.

18.11.11

tinganei - subway

- Pratchedsuiçsss?
- Oi?
- Pratochedasuiço?
- Er....(espremendo os olhos)... oi?
- PRATO, CHEDDAR ou SUIÇO? (não foi acompanhado de "porra" porque ali eu ainda era cliente, e a fila ainda era grande).

Eu não tinha entendido. E escolhi suíço, mesmo tendo certeza de que seriam todos iguais.

Além de eu não gostar desses lugares em que o conhecimento prévio do protocolo é necessário, o subway é o maior blefe do comércio. É a lanchonete mais tinganei do mundo.
Pra começar, você se aproxima procurando uma fatia de mister pizza, que é o cheiro que sai de lá.
Aí olha aquela decoração de tijolinho-da-fazenda-da-vovó com umas fotos de hortinha-frutas-felizes e pensa "ótimo, não é pizza mas vai ser crocante e saudável."
Trocado o contato visual com o atendente, começa a picaretagem automatizada.
Tem 5 tipos de baguete que tem o mesmo sabor, integral tinganei, parmesão saborizado tinganei, e outras misturas de trigo tinganei.
Tem 6 tipos de carne esmigalhada - aquele pratinho de plástico com um bife de frango cortado - vulgo teriaki - é o fim da picada.
Tem lembranças de vegetais diversos, quanto maior a variedade pedida menor a chance de achar eles dentro do sanduíche.
E na hora do tempero ainda dá pra sofrer da mesma surdez da hora do queijo:
- Azeitorégansal?
- Er... ahn?

9.7.11

da fantástica nóia do cotidiano

1. do despertar.

Gosto de acordar com o despertador do celular. Pra isso tenho que garantir que ele esteja carregado, programado e ligado.
E distante da minha cabeça e ao alcance do meu braço, pra simultaneamente eu proteger meu cérebro e meus sonhos das ondas telemagnéticas e não precisar me mexer muito pra alcançá-lo de manhã e enfrentar a primeira peleja diária: a função soneca.
O cálculo deve ser rápido e preciso: quantas vezes eu posso apertar o botão, pensando em quantas vezes seguidas eu preciso acordar e dormir antes de levantar para ficar bem disposta e não chegar no trabalho 30 minutos atrasada. Geralmente são 2 vezes de dez minutos.
Nesses 10 minutos de convivência com a benevolência do universo - dormir 10 minutos quando não se quer acordar é um prêmio - acontecem sonhos dos mais diversos. De continuação das cenas dos capítulos anteriores às primeiras cenas do dia, tudo é possível.
Acordada, partimos para as próximas cenas: tomar banho? o que tem que levar comigo mesmo? como vou pro trabalho mesmo? tomar café? comprar a revista vida simples? não fazer nada disso amanhã? - da fantástica nóia do cotidiano.

14.6.11

enxaqueca


Dor de cabeça na minha aleatória e não-científica ideia é algo que acontece quando o cérebro encaixotado quer sair, explodir que nem bolha; e que passa com uma novalgina e um cochilo.
Na mesma simplicidade e na maior intensidade, enxaqueca é uma dor de cabeça destruidora que passa com 3 novalginas, uma noite de sono mal dormido, uma toalha na testa e muito, mas muito silêncio.

Pra variar um pouco, meu conceito criado não era tão simples assim.

O nome da loja era VER, e a princípio, era só uma loja de badulaques vestíveis e penduráveis nas cabeças e corpos femininos. E estava eu lá, na loja VER, mexendo nas etiquetas e procurando pechinchas. Minha cabeça já cansada de não entender direito o castexxxxano e já frita do sol de 55 grados dava seus últimos suspiros de entendimento.

Foi quando, de repente, plam, não consigo ler a etiqueta.
"Opa, essa está fora de foco. Vou tentar outra. Eita, essa também. E essa, e essa. Caceta, tô ficando cega! Eu aqui, na loja VER, sem conseguir enxergar, piada de mau gosto.
Só pode ser castigo de Deus, deve ser pra eu parar de murrinhar etiqueta e me entregar ao consumo.
Ou então deve ser pra eu dar mais valor aos anos e graus de miopia que me acompanham.
Ou então essas merdas de etiquetas estão borradas."

Enquanto reclamava internamente e me propunha as mais variadas explicações, chega a sabedoria milenar materna e me conta que sim, se eu estou vendo como uma televisão fora de foco é porque eu estou com aura de enxaqueca, devo me retirar do rebuliço e ir dormir no ar-condicionado.

E eu, mirim na arte da dor de cabeça, jamais identificaria sintoma tão bizarro e já estava era pensando em roubar um chapéu - sim, roubar, uma atitude anticonsumo que além de me livrar do capitalismo de calçada da caxxxxe florida me levaria na sombra pra iglesia mais próxima - onde eu pediria perdão pelos pecados e pediria mis ojos de vuelta. En castexxxxano, sí.
Ou pra farmácia mesmo, macaquear um "porfavor, señor, mis ojos no se quedan muy bien, dá me una medicina para biarre, para xxxxevar"

Um salve pras mães e outro pras novalginas.

11.5.11

É praticamente inverno, tempo de usar saia-meia-sapato, por mais que eu ache que não saiba lidar direito com meia-calça. Dez minutos em pé e o fundo chega no joelho. Nada grave.

"Oi, tô procurando uma meia-calça, mas não sei exatamente qual. Essa é a única fio 80?"
"É sim, a única."
"É que, assim, a que eu tenho é diferente, tem outra textura.."
A atendente responde objetivamente e sem grosseria, fato raro nesses dias: "Ah, você deve estar falando das bolinhas.. Moça, essa meia tá no balcão há 2 invernos. A gente atende umas 100 pessoas por dia nesse balcão e no mínimo a metade das pessoas puxa essa meia pra sentir o tecido. Pra você ver, pense, umas 600 pessoas já puxaram ela. Acho que ela tá é bem inteirinha, hein..."
"Er.. é... verdade.."

Enquanto pagava a meia de textura zerada algumas coisas me ocorreram:
a) todo mundo compra meias no inverno pra usar com saia e sapato;
b) as minhas nunca terão bolinhas, a possibilidade de 50 pessoas pegarem na minha perna/dia é bastante remota;
c) a vendedora está no serviço errado, devia estar trabalhando no censo e nas estatísticas.

1.5.11

Dos hábitos alimentares

Família Forreita é tradicional do RJ, e desde as vilas de 1800 e pá criou-se e garantiu-se nos interiores se alimentando na base do aipim (regionalismo para mandioca) e chã de dentro (regionalismo para coxão duro).

Ao longo de sua dispersão geográfica, familia Forreita concebeu diversas promessas do esporte - nadadores, maratonistas e ciclistas.

Os atletas Forreita seguiam duros planos de treino, diários, e mesmo com muito esforço não passaram de promessas por conta de uma crise de câimbra (ou cãibra) que, apesar de crise, era crônica. Pobres Forreitas, invariavelmente não terminavam o treino e iam pra casa com a perninha troncha e os músculos repuxados.

O tempo passa e os Forreita se dão por satisfeitos com sua condição de miguelagem muscular, um provável castigo divino pela monotonia alimentar de carne com mandioca experimentada por seus antepassados.

O tempo passa e o Discovery channel, o canal da instigação frenética, em um de seus programas de investigação metabólica descobriu que os Forreita sofrem de uma ancestral-orgânica-hereditária e inevitável carência de potássio. Muito bem, o triunfo da ciência foi celebrado em uma grande festa pelos Forreita.

De acordo com a nutricionista da família, isso explicava, além da inconveniente persistência das câimbras, estranhos hábitos alimentares observados na casa dos Forreita.
As bananas verdes não amadureciam na fruteira, a voracidade pela fruta era tamanha que não dava tempo. O arroz sempre sobrava sem feijão - as conchas da mesa eram daquelas industriais da merenda escolar - e a batata era preferência em todas as idades - e em todas as refeições, por que não?

10.3.11

estatísticas de um samba qualquer

10% extras da conta não foram pagos, graças aos milhões de decibéis que me pouparam da explicação.
20% da cachaça não entrou na garganta, o garçom levou numa trombada e ficou pelo chão, pro santo.
30% do suor não saiu de mim e nem foi por causa do ambiente, veio da solidariedade visual térmica para com uma pessoa que tava de manga longa de flanela.
40% do espaço era pra ficar em pé, e era ocupado por 50% de casais rodopiantes.
60% das músicas eram desconhecidas, mas passaram a ser familiares depois da 5a repetição do refrão.
80% de chance de falar que não volto mais, 90% de isso ser mentira.